Ando pós-modernamente apaixonado pela nova geladeira. Primeira escrava branca que comprei veio e fez a revolução. Esse eterno feminino do conforto industrial Injetou-se em minha veia... Dei bandeira! E ao pôr fé nessa deusa gorda da tecnologia Gelei de pura emoção
Ora! Desde muito adolescente me arrepio Ante empregada debutante Uma elétrica doméstica, então... Que sex-appeal! Dá-me um frio na barriga! Essa deusa da fertilidade, ready-made à la Duchamp Já passou de minha amante! Virou superstar, a mulher ideal, mais que mãe Mais que a outra... Puta amiga!
Mister Andy, o papa pop, E outro amigo meu, xarope, Se cansaram de dizer: "Pra que Deus, Dinheiro, Sexo, Ideal, Pátria, Família, Pra quem já tem Frigidaire?" É Freud, rapaziada Vir a cair na cantada De um objeto mulher.
Eu me consumo, Madame. E a classe média que mame Se o céu a prazo se der!
Mas que trocadilho infame! La vraie "Ballade des Dames Du Temps Jadis"... Ao contraire!
Que brancor no abre-e-fecha sensual Dessa Nossa Senhora Asséptica! Com ela saio e traio a televisao, rainha minha e de vocês! Dona Frigidaire me com But "No kids, double income!" Filho compromete a estética! Como Édipo-Rei Momo, como e tomo tudo dela... Deleites da frigidez
Inventores de Madame Frigidaire, peço bis! Muito obrigado Afinal, na geladeira, bem ou mal pôs-se o futuro do País. E um futuro de terceira posto assim na geladeira, nunca vai ficar passado. Queira Deus que em fim da orgia já de cabecinha fria, não leve um doce gelado!
Compositor: Antonio Carlos Belchior (Belchior) (UBC)Editor: Fortaleza (AMAR)Publicado em 1990 (06/Mar)ECAD verificado obra #110385 e fonograma #9447 em 10/Abr/2024 com dados da UBEM