Amei uma enfermeira do Salgado Filho, paixão passageira, sem charme nem brilho, roteiro batido, romance na tarde.
E aí, numa seresta na Dois de Dezembro, me perguntaram por ela: \"-Nem lembro...\", eu respondi com um sorriso covarde.
Ouvi - que bofetada! - \"Morreu duas vezes. Uma aqui e agora, a outra há seis meses\". Balbuciei: \"-Morrida ou matada?\"
\"-Depende do seu conceito de assassinato. Um pobre amor não é amor barato. Quem fala de tudo não sabe de nada.\"
Na rua do Tijolo, bloco 5, aquele de esquina, morou uma enfermeira com a chama vital de Ana Karenina.
Dirá um dodói que Tolstói era chuva demais pra tão pouca planta. Ô trouxa, heroínas sem par podem brotar na Rússia ou lá em Água Santa...
Aquela mulher que dosava o soro nas veias dos agonizantes não teve sequer um calmante pra dor sem remédio que aflige os amantes.
Por mais que a literatura celebre figuras em vã fantasia ninguém foi mais nobre que a Pobre da Enfermaria.
Compositores: Aldir Blanc Mendes (Aldir Blanc) (ABRAMUS), Jayme Vignoli Rodrigues de Moraes (AMAR)Editor: Sony Music (UBC)Publicado em 2005 (04/Out) e lançado em 2005 (30/Nov)ECAD verificado obra #1641244 e fonograma #1079940 em 11/Abr/2024